Uma noite na Libéria



Conseguimos finalmente atravessar o rio Nuon em direcção ao posto fronteiriço com a Libéria. Mesmo não tendo visto de entrada no país, fomos tentar a nossa sorte junto do posto de imigração. As explicações foram longas e demoradas para que eles percebessem que pretendíamos ir ter com um professor da universidade em Monróvia para estabelecer contactos científicos e, eventualmente, para instalar a primeira estação GNSS permanente no país. O trio de funcionários que pareciam controlar o posto da emigração pareceram bastante receptivos. Pediram assim 5 dólares para poderem carregar o telemóvel para falar com os superiores na capital. Como a rede era muito fraca, era necessário sair dos edifícios para conseguir apanhar sinal. Finalmente chegou-se a uma solução: um funcionário deles, a quem pagaríamos as despesas da deslocação, iria connosco, mantendo na sua posse os nossos passaportes até regularizar a situação em Monróvia. Porém, um dos nossos motoristas não tinha passaporte, o que nos trouxe bastantes contratempos durante toda a viagem. O argumento dele é que a carta internacional de condução era válida como documento de identificação em toda a zona ECOWAS (Economic Community of West African States). No entanto, foi uma brecha aproveitada em quase todos os sítios para nos dificultar a passagem e para exigir mais uns 'suplementos'. Neste caso, teve de ser chamado um fotógrafo para tirar uma fotografia de identificação que foi colada num papel e pela qual pagámos mais uns dólares. Para isso, foi pendurado um pano vermelho para servir de fundo, em frente ao qual o nosso motorista posou para fazer uma polaróide.
Tendo despachado as questões da imigração, passámos então ao posto da alfândega. Após uma revista minuciosa e demorada aos jipes, os funcionários não perderam a oportunidade de nos pedir mais uma gratificação. Entrámos então no posto para o chefe concluir os processo. Foi aí que o senhor nos informou que tínhamos de pagar um imposto de 2,5% sobre o valor dos carros, para podermos entrar com eles no país. Tal montante, para além de absurdo, estava totalmente fora das posses do projecto. Por isso, após a surpresa inicial, tentámos que o senhor falasse por telefone com o nosso contacto em Monróvia mas ele recusou-se, dizendo que só falava com o seu superior. Pedimos assim ao professor em Monróvia que tentasse contactar esse tal superior. Ainda tentámos que o chefe do posto nos facultasse ao menos o contacto desse tal superior mas ele foi totalmente inflexível uma vez mais, assumindo mesmo uma atitude arrogante como ainda nunca tínhamos encontrado até então.
Como a tarde já se aproximava do fim, optámos por esperar, na esperança que as coisas se resolvessem na manhã seguinte. Fomos assim encaminhados pelos funcionários do posto de imigração para um dito 'motel' já do lado liberiano da fronteira. Antes disso ainda passámos no posto da ONU a tentar arranjar algo para jantar mas sem sucesso. Conseguimos apenas comprar 2 ananases que estavam à venda ali perto.





O sítio onde dormimos foi dos piores que encontrámos. Não havia água canalizada, nem rede eléctrica, a não ser um gerador fraco e barulhento. A casa de banho tinha um buraco a servir de sanita, de onde saía um cheiro difícil de suportar para quem fez a má opção de escolher um quarto com casa de banho. O quarto era minúsculo, mesmo para uma pessoa de baixa estatura, e a cama consistia num colchão fino sobre uma laje de cimento. Antes de dormir, ainda tivemos tempo de provar umas cervejas da Libéria na companhia amigável dos funcionários da imigração que deviam morar ali perto.



No dia seguinte fomos acordados às 6 horas pela senhora que geria o estabelecimento, a perguntar se queríamos água quente para o banho. O pequeno almoço acabou por ser o ananás que tinha sobrado do jantar da véspera. Voltámos então ao posto fronteiriço para nos inteirarmos dos últimos desenvolvimentos.

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